Vida e Paixão
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Soy psicólogo y dirijo una clinica, soy simpático, creo que soy atractivo, muy ardiente y me gusta hacer el amor mucho e hacer amigos, viajar por diversos paises en vacacciones y el deportes. Home Page http://www.mrmarcinho.hpg.com.br Apelido: menthaux Idade: 30 Estado: PR Cidade: CASCAVEL Que bom que você me achou. Muito prazer !!!

sábado, fevereiro 12, 2005
Deus realmente existe ou ele é só o Chico Buarque?

"Ao colocar Chico num pedestal, os brasileiros diminuem a si mesmos"

Por Michael Kepp*

Perdoe-me pela pergunta tabu, mas o que pode explicar o endeusamento epidêmico de
Chico Buarque? Eu não pergunto isso, como minha esposa brasileira afirma, por causa de
uma inveja masculina típica. Claro que essa inveja existe e atinge todos os homens
daqui (forçados a reconhecer a verdade da frase de Tutty Vasquez: nossas mulheres só
são fiéis porque ainda não foram abordadas pelo Chico). Mas o que me intriga é a
sedução que esse decifrador da alma feminina também exerce sobre os homens.

De que outro jeito podemos justificar a homenagem de 18 páginas que O Globo publicou
em junho, pelos 60 anos do compositor? Isso seria espaço demais para o aniversário de
qualquer um. Nem mesmo uma retrospectiva de todas as frescuras de João Gilberto ou uma
coletânea das controvérsias envolvendo Caetano Veloso precisariam de tantas páginas.
Outros jornais deram ao sexagenário menos espaço, mas o mesmo tratamento de deus
grego. Em O Estado de S. Paulo, um jogador de futebol profissional que enfrentou o
time de Chico disse que ele "é bom até quando erra". E, no Jornal do Brasil, o crítico
musical Tárik de Souza escreveu que "a força de sua obra é de uma onipresença". Alguma
semelhança com "o Todo-poderoso"?

Porque deuses são tão notoriamente roubadores de cena, a breve presença de Chico na
Festa Literária Internacional de Parati, em julho, criou uma comoção que ofuscou
autores com muito mais talento e prestígio. Ancelmo Gois vociferou em O Globo: "Paul
Auster que me desculpe, mas a estrela da Flip foi Chico Buarque", que ele batizou como
"nosso herói".

Apesar de Chico ser, como disse Nelson Rodrigues, a "única unanimidade nacional", o
público colocou Pelé e Ayrton Senna no mesmo topo da montanha mítica. Outro colunista
de O Estado de S. Paulo, Daniel Piza, escreveu recentemente, sobre "o rei", que "é
difícil encontrar um campo da criatividade humana que tenha um caso de superioridade
tão evidente". Como é que ficam, então, Leonardo da Vinci, Shakespeare ou mesmo
Michael Jordan?

Por que os brasileiros tratam seus melhores artistas e atletas como deuses? Talvez
porque lhes faltem heróis políticos. Brasileiros ridicularizam seus políticos, os vêem
como incompetentes ou corruptos. Nem os fundadores do país escapam. Dom João VI é
lembrado como glutão e negligente. E reza a lenda que o igualmente sem modos dom Pedro
I deu sua declaração de "independência ou morte" durante um descanso na estrada entre
São Paulo e Santos, onde teve uma séria diarréia.

Nos Estados Unidos, meu país de origem, são os fundadores do país e outros heróis
políticos que são tratados como ícones. Os americanos colocam os rostos deles nas
cédulas e moedas, lembram-se deles em feriados nacionais e os imortalizam com
monumentos imponentes e esculturas em montanhas.

Fazendo isso, os americanos endeusam não os homens, mas os princípios que eles
defenderam ou, no caso de Lincoln e Martin Luther King, pelos quais morreram. Já o
endeusamento de Chico é baseado não em uma bandeira que ele levantou, mas em uma
conjuntura de qualidades pessoais em torno das quais os brasileiros criaram um culto a
sua personalidade. Em geral, quando supervalorizamos alguém só por qualidades pessoais
estamos reduzindo nosso próprio valor. Assim, ao colocar Chico em um pedestal tão
alto, os brasileiros diminuem a si mesmos.

A recusa de Chico de se "caetanear", de ser um pavão da mídia, só intensifica essa
idolatria. E a aura que envolve esse ídolo o tornou tão intocável que criticá-lo seria
um crime, assim como recusar a ele o direito a um calcanhar-de-aquiles seria uma
injustiça.

É por isso que, mesmo desapontada, a típica brasileira até perdoaria Chico por namorar
alguém que ela considerasse indigna dele (não importa quem fosse a sortuda). Como
minha esposa é uma dessas mulheres, eu fiquei desapontado que a recente overdose de
Chico na imprensa não tenha revelado coisa nenhuma sobre sua vida amorosa atual. Tal
furo poderia, pelo menos, fazer da inveja gerada pelo Zeus brasileiro uma emoção que
eu e minha mulher pudéssemos compartilhar mais igualmente.

*Jornalista americano, autor de Sonhando com Sotaque - Confissões e Desabafos de um
Gringo Brasileiro (Record)

Publicado na Edição 205 - 10/2004
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posted by Mr Marcinho 12:12 da tarde
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